A solitária felicidade

(Digo-o como um messias o diria a quem aguarda com fé e perseverança as suas muito esperadas palavras)
Meus amigos, estamos fodidos...

Poderia dizê-lo de outro modo. Talvez tentar amenizar as palavras, para evitar chocar alguns ou não desesperar outros. Mas não. É assim que tem de ser dito, e não o direi por meias palavras apenas para facilitar a sua digestão.

Dependemos sempre de alguém. Amigos, família, etc. Dependemos deles para que a nossa vida possa ser facilitada. Dependemos deles para que a vida seja como a conhecemos, e nenhum de nós é capaz de equacionar o seu mundo de outro modo.

Desde cedo somos ensinados a viver em sociedade. Aprendemos a lidar com os nossos pais, depois com os amigos. Interiorizamos e automatizamos a noção de confiança em alguém, e distribui-mo-la por entre quem nos rodeia, com base em critérios mais ou menos padrão. Aprendemos a filtrar o que damos de nós com base nisso, e procuramos sempre hierarquizar o que as pessoas significam para nós. Aprendemos a confiar e a depender.

E aí, fodemo-nos. Como se costuma dizer, "à grande". Ficamos dependentes de quem nos rodeia. Deixamos de lidar sozinhos com o mundo, porque é mais fácil pedir a alguém que nos ajude com essa tarefa. É mais fácil pedir que nos ensinem como tonar a nossa vida mais fácil, do que descobrirmos nós próprios como isso se faz. E, à partida, limitámo-nos.

Nunca contamos com a possibilidade de não termos ninguém que nos ajude a facilitar a nossa vida. Nunca aprendemos a lidar com algumas situações sem recorrer a alguém. E, pior que tudo, nunca pusemos a hipótese de que isso pudesse acontecer. E, quando acontece, caímos de cara ao chão e ficamos sem saber muito bem como nos havemos de levantar.

Damos por nós a tentar descobrir como sair desta situação. E, mesmo que sejamos capazes de o fazer, o choque que sofremos ao descobrimos que estamos sós deixa-nos perplexos e imóveis. E aí ficamos, à espera que alguém passe e nos ajude, ou que as coisas passem por elas mesmas e que um dia sejamos capazes de nos pormos de pé novamente.

Finalmente um dia somos capazes de voltar a ser nós mesmos. E, para tentar que a situação não se repita, voltamos a confiar nos outros, na esperança de que não nos deixem sós novamente. Porque foi isso que sempre nos ensinaram: a depender, a confiar, a dar e esperar (e desesperar) receber.

E aqui há um circulo vicioso. Meus amigos, estamos fodidos...

2 comentários:

Vio disse...

Primeiro temos de aprender a estar sozinhos e depois com os outros. Só depois. Se estiveres perfeitamente bem sozinho, estarás sempre bem com os outros, mesmo que eles te deixem só (ou te pareça que o fizeram). Se sentes o mesmo que antes, é apenas porque ainda não aprendeste tudo, mas a vida vai encarregar-se disso. (acredita)

Bacardi disse...

Sim, isso eu sei. Agora. A vida tem-se encarregado de há uns tempos para cá de me ensinar a estar sozinho. E se agora consigo meter aqui estes posts pseudo-profundos é porque já vou lidando mais ou menos bem com a situação. Não me agrada, mas aceito-a.

Mas alguém devia-me ter dito isso há uns bons anos atrás. Acho que deveríamos primeiro aprender a conviver connosco, e só depois com os outros. Assim, se a convivência com os outros não decorresse da melhor maneira, já sabíamos como estar sozinhos. O mal de sermos habituados desde cedo a convivermos com os outros é que, quando eles nos falham, ficamos sem saber muito bem o que fazer.

Bem, mas não me vou alongar mais, senão ainda lançam por aí rumores de que estou outra vez deprimido. E, pior ainda, ainda corro o risco de alguém levar a sério o que eu digo. E, isso sim, seria catastrófico!

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